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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Agências estão fechando e bancários estão sobrecarregados, alerta sindicato

Quatro agências foram fechadas recentemente, e o número de funcionários foi reduzido a 30% do total que havia nos anos 1990

Luiz Bandeira

Nos últimos anos, Teresópolis vem presenciando um movimento que já se tornou comum em diversas cidades do Brasil e do mundo: o fechamento de agências bancárias. A combinação entre transformação digital, avanço das fintechs e a busca incessante por eficiência operacional por parte dos bancos tem mudado profundamente a forma como os serviços financeiros são oferecidos — e vivenciados.
De acordo com dados do Sindicato dos Bancários e do sistema Broadcast/B3, bancos tradicionais como Itaú, Bradesco e Santander intensificaram o encerramento de unidades físicas entre 2023 e 2024. A tendência, segundo projeções do setor, deve continuar pelo menos até 2026, acompanhando a migração crescente dos clientes para canais digitais como aplicativos e plataformas online.

“Banco é uma concessão pública, e precisa manter pontos de atendimento para a população. Não é admissível que a cidade veja suas agências fechando enquanto clientes e funcionários são sobrecarregados”, afirma Claúdio Mello do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de Teresópolis


Em Teresópolis, o impacto já é sentido de forma direta. Quatro agências bancárias fecharam as portas recentemente, levando à concentração de atendimento em poucas unidades remanescentes. O Bradesco, por exemplo, agora opera com apenas uma agência na cidade.
Claudio Mello, presidente do Sindicato dos Bancários e Trabalhadores do Ramo Financeiro de Teresópolis (SBTRAFT), alerta para as consequências dessa transformação acelerada. “Banco é uma concessão pública, e precisa manter pontos de atendimento para a população. Não é admissível que a cidade veja suas agências fechando enquanto clientes e funcionários são sobrecarregados”, afirma.

“Chegamos a ter 700 bancários na ativa. Hoje, são apenas 200. É uma perda de empregos, de circulação de renda e de atendimento à população”, afirma Mello

Digitalização x atendimento humano
A digitalização bancária trouxe conveniência para muitos usuários, mas também criou um cenário de exclusão digital. “Hoje, apenas 2% das operações são feitas presencialmente. E quem depende do atendimento físico? Os idosos, os que não têm acesso à internet, ou mesmo aqueles que não dominam os aplicativos. Essas pessoas estão ficando para trás”, destaca Mello.
Além da mudança de comportamento dos consumidores, o sucesso de bancos 100% digitais como o Nubank — que já acumula mais de 120 milhões de clientes no Brasil — acelerou a decisão dos grandes bancos de fechar agências físicas. “O problema é que esses bancos digitais não oferecem a mesma segurança. O Nubank, por exemplo, não tem cobertura do Fundo Garantidor de Créditos, o que coloca o dinheiro do cliente em risco em caso de falência”, alerta o sindicalista.
Mello também aponta distorções na tributação entre bancos tradicionais e fintechs. “Enquanto os bancos pagam 21% de imposto, as fintechs pagam apenas 9%. Oferecem os mesmos serviços bancários, mas com menos obrigações e fiscalização. Isso precisa ser revisto pelo Banco Central.”

A agência do Bradesco no centro absorveu toda a clientela da unidade da Reta e também da agência de São José do Vale do Rio Preto. O resultado é aglomeração, filas, e funcionários sobrecarregados

Cooperativas de crédito se expandem, mas não suprem todas as demandas
As cooperativas de crédito vêm ganhando espaço no Brasil ao oferecerem produtos financeiros similares aos dos bancos tradicionais, como contas, empréstimos e investimentos. Embora sejam, em tese, organizações sem fins lucrativos, muitas já operam com metas comerciais agressivas, cobrança de tarifas e estrutura corporativa semelhante à de bancos médios. Além disso, algumas não oferecem serviços como câmbio, crédito internacional ou integração com fintechs, o que obriga cooperados a manter contas em instituições bancárias convencionais, gerando duplicidade de custos e burocracias.

Crise no setor bancário: sobrecarga e adoecimento
Com o fechamento das agências, os funcionários remanescentes enfrentam acúmulo de funções, metas abusivas e ambientes de trabalho cada vez mais estressantes. “A agência do Bradesco no centro, por exemplo, absorveu toda a clientela da unidade da Reta e também da agência de São José do Vale do Rio Preto. O resultado é aglomeração, filas, e funcionários adoecendo”, denuncia Mello.
Segundo ele, há relatos de bancários jovens, recém-contratados, que já fazem uso de medicamentos tarja preta para lidar com a pressão. “O maior problema da nossa categoria hoje é o adoecimento. Muitos não suportam e pedem demissão.”

No auge do sistema na década de 1990 Teresópolis chegou a ter cerca de 700 bancários em atividade, hoje não ultrapassa 200, alerta sindicato da categoria

Uma cidade que perde: impacto local e alerta para o futuro
O número de bancários em Teresópolis caiu drasticamente nas últimas décadas. “Nos anos 1980 e 1990, chegamos a ter 700 bancários na ativa. Hoje, são apenas 200. É uma perda de empregos, de circulação de renda e de atendimento à população”, afirma Mello.
O Sindicato dos Bancários cobra do Banco Central a revisão das portarias de 2016, que facilitaram a abertura de fintechs e reduziram a exigência de manutenção de agências físicas. “Não somos contra a inovação. Mas é preciso equilíbrio. Antes, antigamente você pagava a tarifa bancária e você tinha um atendimento do bancário por alguns serviços. Hoje em dia, você trabalha pro banco e continua pagando tarifa bancária.”
A discussão é complexa e reflete um fenômeno que, embora global, atinge com força realidades locais como a de Teresópolis. A digitalização é irreversível, mas a exclusão e a precarização do trabalho não precisam ser.


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Edição 06/09/2025
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