A emoção e o saudosismo tomaram conta do II Encontro dos Montanhistas Dinossauros de Teresópolis. De um lado, praticantes de montanhismo de várias gerações, e do outro, o padre Adamastor Urbani que, em 1992 celebrou a missa em comemoração aos 80 anos da conquista do Dedo de Deus. A celebração foi realizada no cume da formação rochosa na Serra dos Órgãos, considerada o símbolo nacional do montanhismo. “É um reencontro com meu passado, estou muito feliz em revê-los. Muitos eram adolescentes e hoje são adultos. Havia muito preconceito naquela época, o montanhismo era considerado um esporte de doido, de pessoas que saíam à noite pra subir em pedras, como diziam”, relatou o padre Adamastor.
Atualmente com 77 anos e vigário na Paróquia Nossa Senhora da Ajuda, em Guapimirim, o Padre Adamastor calcula que no período em que esteve em Teresópolis, entre 1985 e 1995, tenha subido mais de 100 vezes até a Pedro do Sino, ponto culminante do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, levando mais de mil jovens para a prática do montanhismo.
Realizado no último sábado, 1° de junho, na Casa de Cultura Adolpho Bloch, o evento marcou a abertura da programação da Temporada de Montanha de Teresópolis. “Todos respeitam o evento anual realizado na Urca pela Federação dos Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro. Mas, valorizando o título de Capital Nacional do Montanhismo, Teresópolis faz a sua própria cerimônia em homenagem aos praticantes do montanhismo e que divulgam a nossa cidade por meio desse esporte”, destacou Elizabeth Mazzi, secretária municipal de Turismo, acompanhada pelo subsecretário Henrique Silva, pela subsecretária de Eventos, Julie Siqueira, e a coordenadora da Casa de Cultura, Rita Mello.
Boas lembranças
Entre os participantes da celebração realizada em 1992 no cume do Dedo de Deus estava Henrique Silva, subsecretário de Turismo de Teresópolis. “Na época, os pais só permitiam que os filhos fizessem escalada porque estavam com o padre Adamastor. Muito bom saber que ajudamos a abrir caminho para as novas gerações. Hoje o acesso é mais fácil e a prática do esporte, mais segura”, assinalou.
Na época, o montanhista Sérgio Goes tinha 18 anos. “É muita lembrança boa, passa um filme na cabeça da gente. Estamos na montanha por causa do padre Adamastor”, revelou. Quem também relembrou os velhos tempos foi Leandro Nobre, do extinto Centro Excursionista Serra dos Órgãos (CESO) e integrante do Centro Excursionista de Teresópolis (CET). “O mais importante é cultivar esses encontros com figuras históricas como o padre Adamastor, que fez muita diferença na nossa juventude de montanhista”.
Descendente da família dos irmãos Acácio, Alexandre e Américo de Oliveira, desbravadores do Dedo de Deus, feito ocorrido em 1912, e bisneta de Malvino Américo de Oliveira, um dos conquistadores, em 1933, da Verruga do Frade, Adriana Rosa também participou do II Encontro dos Montanhistas Dinossauros. “Sou do Centro Excursionista Teresopolitano, que ano passado completou 25 anos de existência. É muito emocionante participar desse encontro e rever tantos praticantes do montanhismo”, disse.
Memórias em fotos
O II Encontro dos Montanhistas Dinossauros contou com uma exposição de fotografias registrando as três missas celebradas no pico do Dedo de Deus, considerado o símbolo do montanhismo nacional. A primeira foi em 29 de junho de 1945 pelo padre Pio Ottoni Jr, em homenagem aos 20 pracinhas de Teresópolis que lutaram na 2ª Guerra Mundial; a segunda em 1992, com o padre Adamastor Urbani, pelos 80 anos da conquista da montanha, e a terceira, em abril de 2002, com o frei Júlio César Borges do Amaral, marcando os 90 anos do desbravamento da montanha.
O evento foi encerrado com a exibição de fotografias das conquistas do alpinista teresopolitano Mozart Catão (14/06/1962 – 03/02/1998). Primeiro brasileiro a subir o monte Everest, o primeiro a pedalar no topo do Aconcágua e recordista mundial da subida com bicicleta do monte Kilimanjaro, Catão tem o nome mencionado três vezes no Guinness Book of Records. Com expedições aos Andes, aos Alpes, aos Apalaches, ao Maciço Central do Alasca, além do Himalaia, Mozart Catão morreu em 1998 quando tentava escalar a face sul do Monte Aconcágua, na Argentina, em companhia de Othon Leonardos e do teresolitano Alexandre Oliveira.
“Mozart amava o que fazia, era disciplinado, construiu uma carreira limpa e me deixou essa lição de vida: fazer sempre o que ama e da melhor forma possível”, finalizou o irmão, Marco Catão.