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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Corrupção faz Teresópolis empobrecer e perder oportunidades

Escândalos envolvendo desvio de dinheiro público desmoralizam a cidade ao longo dos últimos anos

Anderson Duarte

Em 2011, além de conhecer os efeitos devastadores da força da natureza, nossa população foi exposta a um mal quase tão destruidor quanto uma catástrofe natural, a corrupção. Não que não estivéssemos sendo vítimas deste mal há mais tempo, mas era a primeira vez que diversos esquemas entre empresários e políticos começavam a ganhar publicidade e que chegava tão incisivamente ao conhecimento do teresopolitano. Mesmo com a fragilidade das vítimas da tragédia ainda tão recente, com tanta mobilização cidadã e solidária, infelizmente, ficou marcada a divulgação de cobranças de propinas e o desvio de recursos que viriam a ser empregados em obras e ações de reconstrução de vidas e bairros. Hoje, tanto tempo depois, constatamos que ainda pagamos a conta da corrupção endêmica e que o município perdeu oportunidades e muitos recursos com este tipo de prática. As preferidas dos corruptos são justamente as áreas que mais demandariam investimentos públicos. Merenda, medicamentos, obras de infraestrutura e geração de emprego e renda.
Esta semana, o canal Globo News, por exemplo, expôs um dado alarmante sobre os efeitos nocivos da improbidade dos homens públicos em nossas vidas. Um levantamento feito pela Polícia Federal aponta para cinquenta bilhões de reais em prejuízos gerados em desvios no país. Esse montante impressionante é resultado de trezentas e vinte operações realizadas pela corporação entre 2014 e 2017. Ou seja, nos últimos quatro anos, essas ações de combate a corrupção levantaram um prejuízo aos cofres públicos na casa de trinta e três milhões reais desviados por dia. Entre estas operações está a emblemática Lava Jato, que já desvendou esquemas de corrupção nas áreas do transporte, da saúde, da educação, no saneamento básico e nos fundos de aposentadoria. Os efeitos mais imediatos de tudo isso no dia a dia da população são obras paradas ou atrasadas e a paralisação de serviços públicos como a merenda escolar e a prestação de saúde de qualidade aos cidadãos.
Ainda com relação ao esquema de corrupção na Prefeitura ocorrido antes e depois das chuvas de janeiro de 2011, é preciso lembrar que todo o processo de desvio de dinheiro público somente veio a tona porque o percentual de propina cobrado “subiu” depois das chuvas. Segundo o empresário que denunciou tudo na época, com os recursos chegando de várias frentes, o governo corrupto no poder “cresceu o olho” e subiu o percentual a ser dividido com as empresas prestadoras dos serviços. O que antes do desastre custava de propina 15% dos valores fechados com as empresas prestadoras de serviços públicos, se transformou em 50% do valor do contrato para que as empresas fossem escolhidas em contratos emergenciais e, portanto, com dispensa de licitação, para a execução de serviços como desobstrução de vias e remoção de escombros, entre outros. Aí fica uma pergunta: se metade do que é destinado para determinada ação é desviado para bolsos alheios, o que nós não teríamos de benefícios se 100% daquele recurso não fosse aplicado corretamente? A ONU este ano afirmou que o Brasil perde cerca de duzentos bilhões de reais com esquemas de corrupção por ano. Imagine se bem aplicados?
E o que falar de um prefeito que dentro de uma propriedade de mais quatro milhões de reais, ostentava uma profícua criação de cavalos de raça cotados em mais de cem mil reais em alguns casos. Pouca gente conseguiu fechar essa conta na época: como um salário de menos de nove mil reais dava condições de vida com tanto luxo? Claro que a resposta mais evidente foi a mesma constatada pela Justiça e o patrimônio pessoal muito acima dos vencimentos fez com que o próspero político fosse cassado, mas a conta já tinha sido paga pelos cidadãos, já que a falta da aplicação correta dos recursos só fez desmoronar a qualidade de vida das pessoas, a eficiência das empresas e a confiança no município, visto como uma terra de corruptos em outras instâncias de poder. Apesar do dinheiro farto em meio a desgraça da tragédia ter escancarado as portas para a corrupção, o modelo político vigente há anos na cidade, alimentou-se fartamente destas negociatas famigeradas. Sete prefeitos em sete anos. Inúmeros escândalos, seis vereadores presos, toda essa devastação moral e ética que o município, e o país também, atravessa é tão grave que a população já não tem dúvida de que esse é o primeiro ponto a ser enfrentado pela gestão atual. A nossa sociedade enxerga hoje, por exemplo, a corrupção como prioridade para ser resolvida, e em geral até antes de saúde e educação, que sempre apareciam na frente.
A relação do Brasil com o crime de corrupção é extremamente frágil, a ponto inclusive de não se chegar a um consenso com relação ao cálculo exato do preço da corrupção no país. A corrupção está longe de ser uma novidade também para o teresopolitano, mas atingiu patamares tão elevados, que sentimentos como perplexidade, descrença e revolta não podem ser considerados como exageros. Num intervalo de pouco mais de dez anos foram escândalos como o Mensalão, e os seus cem milhões de prejuízo em pagamentos de propinas a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo, a Lava Jato com os bilhões de prejuízos anualmente, entre muitos outros. O custo extremamente elevado dessas ações ilícitas prejudica o aumento da renda per capita, o crescimento e a competitividade do país, compromete a possibilidade de oferecer à população melhores condições econômicas e de bem-estar social e às empresas melhores condições de infraestrutura e um ambiente de negócios mais estável.
O ambiente corrompido faz com que obras, como de escolas e creches, não sejam concluídas ou levem muito mais tempo do que o necessário para serem entregues à população. No âmbito do mercado, as consequências da corrupção também são devastadoras. Quando empresas passam a se valer de brechas para ganharem mais negócios, elas desvirtuam o ambiente corporativo, praticam uma concorrência desleal e distorcem a competitividade. Em meio a tanta constatação sobre a perda de oportunidades e o prejuízo monetário efetivamente, surge algumas práticas da nova gestão que ascendem a luz da esperança. Licitações com divulgações mais rotineiras, presença de entidades como a JUCERJA e outras no município, foco no fornecimento de itens para a merenda escolar de produtores locais, algumas mudanças sentidas no curto prazo, que demonstram certo afastamento de práticas até então vistas como impossíveis de serem questionadas. Agora falta uma gestão plena das unidades de saúde, sem terceirizações indevidas, um investimento massivo em mecanismos de transparência e controle, para então dizermos que aqui é um território livre de corrupção, como versa o observatório social do Brasil.

 

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Edição 27/12/2024
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