Ludmilla Souza – Repórter da Agência Brasil – São Paulo
A pandemia do novo coronavírus impôs ao mundo um período indefinido de isolamento social e com ele as mudanças nas datas comemorativas, como foi a Semana Santa e agora, o Dia das Mães, celebrado neste domingo (10).
Por força da quarentena, o tradicional almoço do Dia das Mães já não vai reunir a família como todo ano acontece na casa da aposentada Antonia Campos, de 82 anos e mãe de cinco filhos.
Esse ano ela saiu de São Paulo e foi com o marido e uma filha para o interior de Minas Gerais, fugir da cidade que registra o maior número de casos da covid-19 no país. Ela vai passar o período de isolamento com uma das filhas, a professora Angela Paradelas em Muriaé (MG).
Para a aposentada, esse ano vai ser diferente, porque geralmente a filha Angela não vai para São Paulo passar o Dia das Mães. “Sinto muito não poder reunir na minha casa os meus filhos, como todos os anos eu faço, não vai ser muito alegre, mas também não digo que será triste porque estou ao lado de duas filhas e com saúde. Mas estou triste, pois estou longe dos meus netos e de três filhos, também pela situação que está o país, pelo momento político e pela pandemia”, lamenta Antonia.
Estresse
Já a filha Angela diz que isolamento deu a oportunidade de passar a data com a mãe, o que não acontece todo ano. “Com todo o estresse dessa pandemia, pelo menos isso me trouxe um alento, estar com a minha mãe no dia dela, depois de tantos anos sem poder almoçar com ela nesse dia. Então, para mim vai ser muito gratificante estar com ela. Veio a calhar e tapar um buraco, porque é uma data que, em 25 anos, não passo longe da minha filha, e, por ela ter casado recentemente e morar em outra cidade, ela não vai passar comigo. Então, foi uma coisa pela outra”, reflete.
A filha da professora Angela, a analista comercial Daniela Paradelas, mora em Viçosa (MG), a 90 km de Muriaé, mas a prefeitura de Viçosa restringiu, desde 23 de março, os acessos à cidade por meio de decreto como forma de impedir que o novo coronavírus chegue ao município.
São cinco barreiras em rodovias e 19 em estradas que dão acessos aos distritos e zona rural. A atuação nas barreiras conta com 120 profissionais da prefeitura e uma equipe formada por 36 seguranças de uma empresa privada. Os veículos com autorização de passagem são pulverizados com produtos sanitizantes e desinfetantes. A analista não conseguiu autorização para sair da cidade.
Daniela disse que está sendo um momento muito difícil. “Meu emocional está bem abalado. Casei em novembro e, com os desastres das chuvas aqui na região, fiquei bom tempo sem ver minha mãe, pois as estradas caíram. Agora a prefeitura de Viçosa colocou barreiras sanitárias em todas as saídas da cidade, então no momento estou impossibilitada de ver minha mãe. Hoje são 60 dias sem vê-la e a falta de previsão de quando vou encontrá-la me deixa mais triste ainda”, confessa.
Ela disse que será o primeiro Dia das Mães longe. “Confesso que ainda não me conformei com a ideia. Fico pensando em várias maneiras de ir para Muriaé, mas tenho consciência que estaria burlando um decreto. Mas, de qualquer forma, vou mandar um presente para ela bem especial”.
A data será comemorada junto com a sogra e o marido. “Iremos fazer um almoço e comemorar que estamos todos com saúde”.
Para a professora Angélica Benith, a data também será diferente. Apesar de morar na mesma cidade que a mãe, São Paulo, não irá cumprimentá-la pessoalmente pelo dia, assim como a sogra, como faz todo ano. Ela diz que sempre almoça com a mãe, Marli Ribeiro dos Santos ,de 59 anos, e o café da tarde é com a sogra, Jane Benith Belo, de 63 anos.
“Não vou visitá-las, não vou abraçar e beijar, mas, no geral, não me sinto ruim porque a gente já tem uma ligação próxima, falo com minha mãe e minha sogra o dia inteiro. Então, farei uma videochamada para poder falar com elas e dar os parabéns, porque é um dia importante. Mas é um momento que a gente tem que se recolher e cuidar de quem a gente ama, que nos deu a vida, temos que preservar e cuidar da nossa matriarca. Muito provavelmente eu vou levar o presente, entregar de luva e máscara, mas não vou poder ficar junto nesse dia”, diz Angélica.
Distanciamento físico
A psicóloga organizacional Daiane Oliveira de Paula também pretende ver a mãe, mas mantendo o distanciamento físico.
“Pretendo usar uma máscara e ir até a casa dela desejar feliz Dia das Mães da porta, não vou nem entrar, mas eu quero vê-la!”, argumenta.
Ela conta que todos os anos se reúne com a mãe e os dois irmãos na casa dela. “Fazemos um almoço, geralmente churrasco, e cada um contribui trazendo um prato, sobremesa e bebida. Passamos o domingo juntos, os netos entregam os presentes para ela, tiramos fotos, nos abraçamos e beijamos. É sempre muito bom! Esse ano, por causa do momento que estamos vivendo, ficará cada um na sua casa. E eu e meus irmãos vamos encomendar uma cesta de café da manhã e mandar entregar na casa dela”.
O Dia das Mães acontece neste ano com grande parte dos estabelecimentos comerciais de portas fechadas. A segunda melhor data para o comércio, atrás apenas do Natal, costumava promover alavancagem das vendas em maio. Enquanto isso, o comércio online garante promoções especiais para que filhos e filhas marquem presença neste dia.
Já os restaurantes, também fechados, não receberão as famílias para os almoços de domingo. E as vídeo chamadas, já incorporadas ao cotidiano neste momento de isolamento, unirão as famílias neste Dia das Mães.
Edição: Kleber Sampaio