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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Livros para a Educação comprados em ONG

Processo de contratação da editora do “coaching” Paulo Vieira foi iniciado depois da palestra motivacional com secretários em São Paulo

Wanderley Peres

“Nunca vi, nem comi, eu só ouço falar”. É claro que agora o Zeca Pagodinho já sabe, mas quando tornou sucesso a música de Luiz Grande, vinte anos atrás, o cantor deixou claro que não sabia o que era caviar. Muita gente em Teresópolis aliás, que não sabia, já sabe também o que é caviar. Até alguns que vendiam o almoço para conseguir jantar, como dizem lá em Minas. Privilegiados seres alojados na administração municipal com o pomposo título de servidor, ignoram que estão nos cargos públicos para servir o público e não se servir dele, levando a cidade ao caos com as suas corrupções. E depois de experimentar o caviar, puderam esses privilegiados conhecer também outro exotismo: o coach. Ou “coaching”, termo inglês que preferem esses ilustrados vendedores de facilidades. E conheceram justamente o mais famoso e caro deles, a quem o prefeito Vinícius Claussen tem por excelente ídolo.

Mas, você sabe o que coaching?

Não é de comer, nem nunca vi também, mas dá para perceber bem o estrago que faz nas mentes dos seus discípulos, que são os “coachees”, esses tipos cada dia mais comuns que nos cumprimentam com aquele tão falso “excelente dia”, quando um sincero e gostoso “bom dia” já seria mais que o suficiente. O coaching, ou coach, é o mesmo que “treinador”, “instrutor” ou até professor, diriam, embora a qualificação não deva ser usada porque a profissão não é regulamentada no Brasil. Coaching, sinceramente, é aquele sujeito empolado que vende até gelo para esquimó tão convincente que flui sua pregação mansa e cheio de trejeitos.

Prefeitura informou que gastou cerca de R$ 150 mil em evento para secretários em São Paulo

Quem não se lembra da farra dos secretários municipais e seus subsecretários em São Paulo aonde foram acompanhados do prefeito para assistir uma palestra motivacional de quatro dias às custas de dinheiro público, conforme noticiou O DIÁRIO em manchete no dia 3 de novembro passado? Um escândalo, orgia que não deu em nada, nem foi investigada pelos vereadores. Mas aquele desperdício de dinheiro público denunciado pelo nosso jornal era ínfimo o valor diante do que estava sendo engendrado nos bastidores. A toque de caixa, depois desse evento, a prefeitura contratou a empresa do palestrante bom de bico que tanto agradou o secretariado naqueles dias de lazer. Dejavu da trama de novembro passado, a publicação do edital de contratação de um curso em uma ONG de Minas Gerais foi o fio da meada que expôs suposta paga aos aliados políticos do prefeito, que abriram as portas da igreja envolvida durante o período da campanha de reeleição.

“Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade”.

Tivesse lido Buda, e soubesse da convicção do DIÁRIO, a secretária de Educação não mentiria em resposta sobre o caso quando afirmou em Nota que era “importante deixar claro que o coach Paulo Vieira não faz parte do quadro societário da empresa contratada”, ressaltando que “o termo de colaboração firmado é entre o Município de Teresópolis e o Instituto ASSEP, e eventuais parcerias deste Instituto com outros não englobam o termo em questão”.

Uma simples consulta na internet revelou a mentira. Embora, de fato, até onde se sabe, a prefeitura não tenha contratado o “master coach” neopentecostal Paulo Vieira, criador do “Método CIS” (Coaching Integral Sistêmico), para comprar do amigo do prefeito os seus livros ou suas palestras, porque a empresa vinculada à ONG Servindo e Protegendo é a “Febracis Assinatura e Comércio de Livros Ltda.”, essa empresa que figura no contrato firmado pela Prefeitura tem como sócio administrador a “Newco Participações Ltda.”, empresa que pertence a Paulo Sérgio Vieira e sua esposa, Camila Campos Saraiva e Silva.

É imoral essa contratação porque está flagrante a promiscuidade. E inoportuna também, considerando que o mau estado das estradas do interior não permitem os ônibus chegarem a diversas escolas nos dias de chuva. Prioridade também não é, até porque temos várias escolas fechadas por falta de reformas e manutenção. Se é ilegal, no entanto, é questão para o Ministério Público apurar. Ou os vereadores, que tem essa obrigação e, aparentemente, já se movimentam no sentido de fiscalizar o imbróglio noticiado. A prefeitura tem sua versão, e deve dá-la em entrevista prometida a DIÁRIO para esta quinta-feira, 23, quando o secretário de Administração, Lucas Homem, será ouvido pela redação.

Enquanto a administração municipal arranja argumentos para convencer a população de que nada existe de errado, ou que, se existe esses erros serão sanados, depois das falas de vários vereadores na última sessão da Câmara, onde um deles chamou o setor de licitações da Prefeitura de “balcão de negócios” e as comissões de Educação e de Servidores Públicos da Casa foram acionadas pelo Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, o GT de Literatura do Fórum Municipal de Cultura de Teresópolis, através de sua coordenação, em nome da classe artística ligada à literatura da cidade, lançou nota de repúdio veemente à compra dos livros motivacionais. “Esta coordenação entende que o investimento em literatura para o ensino é fundamental para a cultura e para a transformação da sociedade, mas entende também que em uma cidade que possui centenas de escritores que também sofreram com a pandemia da COVID 19, esta monta seria muito importante para estas famílias, bem como, o valor investido na cidade, faria este dinheiro circular, possibilitando investimento na economia local e um maior recolhimento de impostos a serem reinvestidos na própria cidade”, assinou o acadêmico da ATL, escritor Gustavo Lucena, que assina a nota em defesa dos autores locais.

Foto: Sem divulgação, a palestra para os secretários em São Paulo foi sabida da população depois que o vereador licenciado Estufa divulgou vídeo mostrando a farra com dinheiro público enquanto as estradas estavam intransitáveis por conta das chuvas no feriadão criado pelo prefeito no dia de Finados.

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Edição 03/05/2024
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