Maria Eduarda Maia
“Ler é viajar sem sair do lugar”. Mas, desta vez, a viagem vai muito além das páginas. A autora e moradora de Teresópolis Clara Savelli, que há anos transforma palavras em narrativas, agora atravessa fronteiras reais. Selecionada como bolsista do Iceland Writers Retreat 2025, um retiro internacional para escritores de todo mundo, realizado em Reykjavík, capital da Islândia – lugar que respira a literatura – Clara conquistou um feito inédito sendo a primeira autora da América Latina a ser escolhida para esse programa. “O retiro acontece todos os anos desde 2014 e a ideia é passar uma semana imersos em workshops e atividades, além de estarem completamente envolvidos na cultura da Islândia”, explicou a jovem autora, que viajará em abril de 2026, ao Diário.

Para participar do processo seletivo, que geralmente acontece entre setembro e outubro, é necessário preencher um formulário no qual o autor precisa contar sua trajetória literária, o que já fez, como contribui para a comunidade literária, eventos que participou e o que o motivou a se inscrever. Também é exigido que o escritor envie um trecho de uma obra de sua autoria, além de duas cartas de recomendação de pessoas que conheçam e saibam de seu trabalho.

Cidade da literatura
Durante a entrevista, Clara trouxe várias curiosidades sobre a Islândia e sua capital, que é reconhecida pela UNESCO como ‘cidade da literatura’. “Há várias iniciativas e atividades ligadas ao livro e à escrita. A Islândia tem o maior número de escritores por habitante no mundo, sendo uma a cada dez pessoas é escritora”, disse, contando sobre a tradição do Jólabókaflóð, a famosa “inundação de livros do Natal”, quando as famílias islandesas se presenteiam com livros e passam a noite lendo. “O país, como um todo, além de suas belezas naturais, tem essa atmosfera literária incrível, que é uma das razões de ser o lugar perfeito para um retiro desse tipo”, completou.
Grande surpresa e orgulho
Para Clara foi um momento de surpresa quando recebeu a ligação de uma das fundadoras do retiro com a notícia de que havia sido contemplada com a bolsa. “Quando a gente se inscreve num processo assim, a gente tem esperança, mas também fica com muitas dúvidas. Então, quando recebi o telefonema, foi um choque! Foi uma emoção enorme, eu não conseguia acreditar. Ainda estou digerindo isso”, declarou a autora.

Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades e, para Clara, levar a literatura brasileira, representando Teresópolis, a um dos palcos mais respeitados da literatura mundial, além de ser uma honra participar, também há um compromisso com a comunidade. “É uma grande responsabilidade carregar esse título de ser a primeira da América Latina escolhida. Quero mostrar para o mundo que a gente produz boa literatura, que somos mais do que os estereótipos que muitas vezes são associados a nós”, ressaltou.
Trajetória
Desde pequena, Clara queria ser escritora, começando no mundo da literatura na adolescência, sendo os jovens seu público-alvo. “Depois disso nunca mais parei! Escrevo especialmente para o público adolescente, e talvez seja isso o que tenha sido o ‘pulo do gato’ “, contou, falando ainda sobre seu livro público pela editora Intrínseca ‘As Férias da Minha Vida’. “É um romance para adolescentes que conta a história de três amigas que viajam juntas para comemorar os 15 anos, mas as coisas saem do controle. No final, elas aprendem que o mais importante é seguir o coração, e não o roteiro”. Outro livro de destaque de Clara Savelli, um dos seus mais populares, é ‘Acampamento de Inverno para Músicos (nem tão) Talentosos’, que tem sua narrativa desenvolvida em Teresópolis.


Impacto
Para a autora, ser escolhida no processo seletivo representou um novo capítulo em sua vida após um tempo, durante a pandemia, recluso, com pouca criatividade e inspiração. “Receber a bolsa foi como um sinal de que eu deveria voltar ao meu chamado, ao que realmente me faz sentir viva”, frisou Clara, nasceu no Rio de Janeiro e se mudou para a cidade serrana em agosto deste ano.
“Acho que podemos fortalecer ainda mais o cenário literário local, criando espaços para retiros, feiras literárias, e incentivando a interação entre escritores e leitores. A jornada é difícil, muitas vezes parecendo impossível, mas há dias de glória, que sempre valem a pena. Os livros mudaram a minha vida e me ajudaram a me tornar quem sou hoje. Se meus livros conseguirem fazer a diferença na vida de alguém, já estará mais do que pago para mim”, concluiu Clara Savelli.










