Marcello Medeiros
O período de quase um mês sem uma gota sequer de chuva tem gerado diversos problemas além da falta d´água e consequente baixa dos níveis nos locais de captação da Companhia Estadual de Águas e Esgotos, a Cedae. As florestas estão em chamas, com danos incalculáveis para as três unidades de conservação ambiental que cercam o município – Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Parque Estadual dos Três Picos e Parque Natural Municipal Montanhas de Teresópolis – além de muitos registros de incêndios criminosos em vários outros locais. Basta olhar de qualquer uma das pontes da região central, por exemplo, para constatar que as agressões diárias ao nosso principal curso d´água ficam ainda mais em evidência no período de estiagem. O Paquequer agoniza por conta da forte ação antrópica. A proporção de esgoto é muito maior do que a água, líquido que nasce límpido nas montanhas e passa a ser vilipendiado após a ponte do PARNASO.
Há lixo de todo o tipo espalhado. Desde os resíduos sólidos provenientes de residências e estabelecimentos comerciais e industriais ou que foram parar no rio após serem despejados erroneamente em ruas e calçadas, a objetos que também não deveriam estar ali. Pedaços de cama, sinalizações de trânsito, restos de colchões e até um ar condicionado estão estacionados nos muitos bancos de areia e detritos formados principalmente nos lados opostos das curvas do rio. Os exemplos da região central do município se repetem em todas as comunidades cortadas pelo Paquequer até que ele encontre o Rio Preto, já no Segundo Distrito.
A pouca água corrente e o acúmulo de lixo e efluentes residenciais e industriais dão uma cara de córrego aquele que já foi grandioso. Em Paineiras, por exemplo, onde teve seu curso mudado nos anos 80 com a construção do extravasor, é impressionante o que se tornou o braço do Paquequer. No trecho que segue pelo local conhecido como “túnel” a cor do rio nessa época do ano ainda é mais assustadora.
A culpa é de quem?
Não bastasse a mão pesada do teresopolitano, que finge desconhecer a importância desse rio e a sua responsabilidade em relação a tais problemas, faltam ações do poder público. Há pelo menos dois anos o Instituto Estadual do Ambiente (INEA) não realizada nenhum tipo de serviço no Paquequer. Esta semana, entramos em contato com a assessoria de comunicação do órgão, não recebendo nenhuma informação sobre previsão de limpeza e/ou desassoreamento. Importante destacar ainda que Teresópolis perdeu grande volume em recurso do governo federal voltado exclusivamente para o Paquequer, poucos anos atrás. O dinheiro seria disponibilizado para criação de sistema de coleta e estações de tratamento de esgoto no período de seca – justamente esse que vivemos – que consistiria em recolher tudo que é despejado hoje por milhares de canos e grandes manilhas e conduzir para um local onde o material seria tratado e devolvido ao rio “quase limpo”. Porém, por conta da falta de um projeto para tal, o recurso foi cancelado.
Vida e morte todos os dias
O Paquequer nasce nas altitudes da Serra dos Órgãos, em ponto entre a Pedra São Pedro e trecho da trilha da Pedra do Sino. O primeiro local onde pode ser visto é no “Caminho das Orquídeas”, trilha que leva até as montanhas Agulha do Diabo, São João, São Pedro e o Mirante do Inferno, este último um aglomerado rochoso de onde se tem excelente vista para a Agulha. Ali existe uma pequena, e atualmente restrita, área de camping. Devido ao rio, é conhecida justamente como “abrigo Paquequer”.
Dali em diante, a água desce por grandes paredões rochosos, formando bonitos espelhos d´água em outra trilha do Parque Nacional, a que leva ao Santo Antônio e Três Marias. Esse trecho, porém, é restrito a pesquisadores. Porém, ao longo da estrada da Barragem, que liga a portaria do Parnaso ao início da trilha mais famosa da unidade, Sino, ele se descortina novamente em ponto de fácil acesso ao público. Ali, as pedras cobertas de musgo e água pura, gelada, nada lembram o que costumamos ver nos trechos urbanos do Paquequer. Pouco adiante, ele recebe água de outro rio, o Beija-Flor. Assim, na ponte ao lado da portaria da unidade de conservação já está mais volumoso. Porém, é dali em diante que a situação começa a ficar crítica.
Quando começa a ser estrangulado por centenas, milhares de residências, o rio começa a morrer a cada metro percorrido pela água. Mais esgoto, mais lixo. Menos vida. Ilha do Caxangá, Beira-Linha, Santa Cecília, Várzea… E assim o curso d´água vai cortando a cidade e, nas proximidades do início da Delfim Moreira, muda bruscamente de cor. Recebe as águas bastante poluídas do Rio Meudon, que também carrega esgoto e sujeira que vem do bairro de São Pedro. Empiricamente, se percebe claramente a ampliação da degradação ambiental a partir desse ponto. Da Várzea, a água corre em direção a Barra do Imbuí. Na Avenida Presidente Roosevelt, atualmente passar por uma espécie de túnel, o “extravasor”.
Quedas, corredeiras e cachoeiras
Depois de Barra e Espanhol, o rio corta o Golf até chegar a Cascata do Imbuí. Nesse ponto fica a sua principal queda d´água, de mais de 50 metros, que acabou virando ponto turístico. Dali em diante, existem dezenas de outras cascatas e corredeiras, mas desconhecidas da grande maioria do teresopolitano. No Matadouro estão algumas outras delas. No Holliday, acesso a localidades como Santa Rita e Três Córregos se avista grande quantidade de pedras. Dali, o Paquequer começa a atravessar diversas localidades do Segundo Distrito, até chegar a sua foz em Providência. É nesse local, próximo a estação de captação da Cedae, que o nosso principal curso d´água finaliza sua agonizante travessia por Teresópolis, desaguando no Preto. Apesar de evidentes agressões, ao longo de todo esse percurso há muita vida, muitas histórias que poderiam ser contadas. Mas falta espaço nessa página. “SOS”, já alertava projeto de educação ambiental realizado no rio entre 2008 e 2010.