Na tarde desta quinta-feira (13), O Diário conversou com o porteiro Carlos Eduardo Lemos, de 37 anos, que nos últimos dias foi destaque no noticiário policial após mais um capítulo de uma história que poderia ter acabado tendo como desfecho a sua morte. Segundo as investigações, há mais de dois anos ele vinha sendo ameaçado e perseguido por um dos moradores do prédio onde trabalha na portaria, pessoa que, no último domingo, utilizou uma adaga para tentar feri-lo fatalmente. O motivo, segundo Carlos Eduardo, é que o aposentado não aceitava o fato de ele não querer mais trabalhar mais como motorista para tal pessoa. A vítima de stalking e tentativa de homicídio diz que, mesmo com a prisão do autor, não tem conseguido dormir com medo de ser assassinado.
Carlos conta que trabalhou um período como motorista e jardineiro para o aposentado, mas que, devido a situações familiares, decidiu reduzir a rotina de trabalho – causando irritação no aposentado. “Trabalhei um tempo como motorista para ele, mas com o tempo foi ficando agressivo. Quando eu relatei que iria parar de trabalhar devido à gravidez da minha esposa, pois a gente já tinha perdido um filho, ele não gostou. Minha mulher teve parto em casa e fui socorrer, aí meu irmão foi avisar que não iria trabalhar mais, só ficaria na manutenção do jardim, mas aí disse que só no jardim não precisava mais trabalhar e de lá para cá começou a me atacar. Isso foi em 2023 e desde então vem me ameaçando todos os dias, dizendo que tenho que trabalhar para ele, que senão iria me matar, que ia me atropelar, que eu era um pobre, que não passava de f****, que ele tinha condições de pagar qualquer pessoa para sumir comigo. Ele chegou falar que iria ser mais um caso igual esposa do goleiro Bruno, que ninguém sabe onde foi parar. Isso foi mais que uma ameaça… Cheguei pedir ajuda ao síndico, mas não levei fé, não achei que fosse chegar ao ponto de esfaqueamento. Achei que tinha algum distúrbio pela idade, mas não acreditava que chegaria a esse ponto”, relata Carlos Eduardo.
Noites sem dormir
Na última quarta-feira (12), Policiais Civis da 110ª DP prenderam o homem acusado de tentativa de homicídio, stalking e lesão corporal grave. “O crime aconteceu no último domingo (09) quando o acusado chegou a ser preso em flagrante por perseguição e agressão, mas foi liberado para responder em liberdade. No entanto, com após o laudo pericial constatando a gravidade das lesões e o depoimento de novas testemunhas, foi determinada sua prisão preventiva”, informa a PCERJ. Na ocasião, ele pagou fiança de R$ 7.500 e foi liberado.
Durante o cumprimento do mandado de prisão preventiva, na quarta-feira, foram apreendidas mais três adagas idênticas à utilizada no crime. Uma delas foi jogada pela janela, com a tentativa de aliviar o flagrante, mas localizada pelos policiais. O suspeito tentou resistir à prisão, sendo necessário o uso moderado da força e de algemas para contê-lo.
Mesmo com a prisão do aposentado, Carlos Eduardo Lemos diz que não tem conseguido dormir: “A gente não tem defesa, não tem porte de arma, nada para se defender. Ele diz que já foi de força militar, que tem dinheiro, condições… O que garante que ele não vai em uma boca de fumo comprar arma ou pagar qualquer valor para um maluco me matar? Quanto vale vida uma vida? Cinco, 10 mil? Se ele chegar em qualquer lugar e oferecer 100 mil para me matar, será que vão pensar muito? Estou com medo de andar na rua, de ir para casa, de trabalhar…. De receber uma ligação falando que minha família foi atacada…. Tenho medo o tempo todo, já não durmo mais tranquilo”, pontua a vítima.
Outra suposta motivação para o crime
Sobre a situação, o Delegado explicou que “há registros na delegacia, feitos pelo próprio porteiro, sobre ameaças e xingamentos anteriores. O morador alega que o porteiro teria entrado em sua casa e furtado algumas joias, mas até o momento essa acusação não foi comprovada. Essa, portanto, seria a alegada motivação para as ameaças e os xingamentos. A investigação está em andamento, mas, como disse, até agora não há provas de que o furto tenha de fato ocorrido”, informa Dubugras. Em vídeo que vem circulando nas redes sociais, o homem aparece praticando vários insultos contra a vítima, inclusive “que seria ladrão”.
Sobre o crime de stalking
O stalking refere-se à perseguição contínua e repetida de uma pessoa, por qualquer meio, com o intuito de ameaçar sua integridade física ou psicológica. Trata-se de uma forma de agressão tanto psicológica quanto física. O stalking pode ocorrer de maneira presencial ou virtual. A sanção para tal é de reclusão de seis meses a 2 anos, além de multa. A pena pode ser aumentada de metade se o crime for cometido: – Contra criança, adolescente ou idoso; – Contra mulher por razões da condição de sexo feminino; – Mediante concurso de duas ou mais pessoas; – Com o emprego de arma.