Anderson Duarte
Somos um dos maiores celeiros de grandes campeões do Jiu-Jitsu em todo o mundo, formadores de profissionais que propagam a Arte Suave em todo planeta, com campeões lendários e mestres da mais alta estirpe, e agora, também podemos dizer que somos a cidade do Projeto SuperAção, que utiliza toda essa tradição para levar a modalidade esportiva aos jovens teresopolitanos com síndrome de Down. A ideia tem mudado algumas realidades e alcançado números que nem se imaginava no início do projeto, a ponto de competições internacionais dedicarem aos Downs uma categoria específica dentro da disputa de premiações. Criado pelo casal Pamela Canabal e Luis Gomes, o Gugu, o Projeto surgiu dentro da ASSIND Teresópolis, a Associação Síndrome de Down, e hoje leva jovens teresopolitanos em competições da modalidade por todos os cantos, com atletas destaque e vitórias significativas. Em entrevista ao Programa Jornal Diário na TV esta semana, Gugu e João Pedro Estrella, representaram o grupo e contaram um pouco da história do projeto.
Segundo especialistas médicos, o Jiu-Jitsu possui habilidades específicas que podem potencializar o desenvolvimento físico das crianças com Síndrome de Down, além de melhorar a coordenação, a força e o tônus muscular, o esporte pode ajudar na postura corporal, orientação espacial e melhorar o equilíbrio e flexibilidade. Mas isso tudo nem passou pela cabeça de Gugu e Pâmela no momento em que idealizam o projeto, na verdade, a vontade de participar do dia-a-dia daqueles jovens foi mais determinante que os benefícios físicos que eles poderiam ter. “Eu nunca tratei eles de forma diferente. Sempre foram meus alunos de Jiu-Jitsu. Isso nunca foi diferente, e na verdade percebo muito claramente hoje que essa coisa de diferença quem impõe mesmo somos nós, já que efetivamente não existe nenhuma barreira que os difere. São atletas aplicados, dedicados e com uma evolução técnica impressionante, ou seja, não tem como dizer que são diferentes”, explica o professor.
O SuperAção fez tanto sucesso que ídolos internacionais da modalidade quiseram participar um pouco desta história e acabaram aumentando a abrangência do trabalho, como o grande mestre Hélio Soneca, um dos maiores campeões do esporte, conhecido em todo mundo como um dos mais completos atletas de todos os tempos e que viu no trabalho do amigo e aluno Gugu Gomes, uma chance de ampliar ainda mais a importância social do esporte na cidade. “O Hélio Soneca me chamou uma vez no Pedrão, depois de uma participação dos alunos do projeto e me perguntou o que estava precisando para ampliar o trabalho com as crianças. Eu expliquei um pouco do início do trabalho e ele me disse que estaria indo para uma luta internacional, com uma boa premiação em dinheiro caso fosse vitorioso e que se isso acontecesse, ele nos daria quimonos e outros materiais que estivéssemos precisando. Bom, que ele ia ganhar a gente já sabia né! Mas de fato ele não só nos deu os equipamentos como também, juntamente com o nosso amigo Fábio Cupello, também abriu as portas da academia dele na cidade para o Projeto. Hoje estamos sob a chancela da Hélio Soneca em competições e representamos um dos maiores nomes da modalidade no país, isso é motivo de muito orgulho para nós”, enaltece Gugu.
Em recente competição realizada no Rio de Janeiro, por ocasião do Dia de Conscientização da Síndrome de Down, o grupo pode confraternizar com atletas de renome internacional e ídolos do esporte nacional, como o medalhista olímpico Flávio Canto que na competição foi bastante assediado pelos atletas com Down e retribuiu todo o seu carinho fora e dentro do tatame, quando enfrentou o faixa-laranja Davi Oliveira, que o finalizou com uma chave de braço. João Pedro, por exemplo, já lutou e ganhou do mega campeão do UFC, José Aldo. “Foi um momento muito bacana, com a Arena Olímpica lotada e vibrando com os nossos atletas no tatame. Eles tiveram aulas com mestres, tiveram clinicas com os campeões, conheceram os ídolos da modalidade, enfim, foi um momento daqueles em que tudo passa a valer a pena. Os pais e amigos do Projeto que estiveram lá no evento viram como é relevante o trabalho e como ele pode ser uma grande arma social se bem utilizado”, enaltece o professor.
O site “Movimento Down” fez há algum tempo um especial sobre esportes com algumas atividades que trouxeram benefícios e diversão para pessoas com síndrome de Down. Estavam na lista modalidades como o surfe, a natação, a ginástica olímpica e as artes marciais, que se destacaram no quesito fidelização. Nas crianças com Síndrome de Down a prática esportiva, além das vantagens físicas traz benefícios psicológicos e sociais e no Jiu-Jitsu especificamente, devido à sua intensidade demandar pausas e exercício rápidos, acaba por favorecer também a atenção dos jovens. Ele ajuda as crianças a se sentirem parte de um conjunto e a trabalhar em equipe, incentivando nela o companheirismo e favorecendo as relações pessoais. Com os exercícios no tatame, elas descobrem suas próprias capacidades e as ajudam a externar suas emoções com o grupo favorecendo o autocontrole emocional. Todos tomam consciência tanto das suas dificuldades como de suas possibilidades melhorando assim a sua autoestima. Adquirem maior autonomia o que representa uma clara e sensível melhora no estado de ânimo. Além, claro, de aprenderem a seguir e respeitar as regras do jogo.