Marcello Medeiros
Em meados de janeiro, O Diário publicou reportagem sobre situação absurda registrada na localidade de Água Quente, no Segundo Distrito, quando os moradores não sabiam mais o que fazer diante de uma infestação de moscas em residências e estabelecimentos comerciais: “Vídeos publicados mostram uma quantidade alarmante de insetos capturados em armadilhas instaladas em residências e estabelecimentos comerciais”, alertou o texto. À época, foi informado pela Vigilância Sanitária que o problema já havia sido averiguado e identificado, supostamente tendo relação com o uso de um fertilizante. Hoje, porém, a quantidade de moscas é cada vez maior e a população não sabe a quem recorrer. O assunto foi discutido na última sessão da Câmara Municipal, que cobrou “uma fiscalização mais eficiente contra as pragas”.
O assunto foi colocado na pauta pelo Vereador Fabinho Filé (PDT), morador da localidade afetada e um dos muitos moradores que vivem diariamente a infestação de moscas. “Hoje Água Quente está vivendo um colapso, tinha dado uma amenizada, mas voltou com força. Não temos paz naquele lugar. Se eu convidar vocês para um almoço, um churrasco na minha casa, ou na de um amigo, vou ficar com vergonha. Clubes, restaurantes, casas, todo mudo com esse problema. Soube que em janeiro a Vigilância Sanitária esteve lá, como em outras vezes, mas queremos saber exatamente quais medidas foram tomadas. Ficamos abismados porque na época a Vigilância informou ao Diário que a causa provável era o uso inadequado de um fertilizante, por produtores, que exalaria um cheiro parecido com feromônio, que atrai as moscas. Mas fui até em lojas que vendem esse produto, em Teresópolis, em Friburgo, para tentar saber porque só em Água Quente tem esse problema. Quero saber se a Vigilância Sanitária ouviu outros órgãos, sem tem outros dados técnicos para embasar isso. Está vergonhoso, até restaurante já fechou”, pontuou Fabinho.


Ração ou fertilizante?
Sem entender a origem do problema, algumas pessoas chegaram a associar a infestação ao uso de uma ração fornecida aos animais de uma empresa. Essa, no entanto, não é a primeira vez que o problema é relatado. Em julho do ano passado, a Vigilância Sanitária Municipal foi acionada para investigar o aumento da população de moscas na área. Já em 2023 outros vídeos mostravam a dificuldade vivida pelos moradores com os insetos.
Em meados de janeiro, a Vigilância Sanitária municipal informou ao Diário que a infestação não está relacionada à ração fornecida aos animais da granja, afirmando que “o manejo está sendo realizado adequadamente, sem nenhuma irregularidade no funcionamento do local”. Ainda de acordo com as investigações realizadas pelos técnicos da Vigilância Sanitária, “a provável causa seria o uso indiscriminado, por parte de agricultores locais, de um fertilizante específico que, em contato com o solo, libera um odor que naturalmente atrai as moscas”.
Também na sessão desta quinta-feira (06), o Vereador Marcos Rangel (PP) refutou a informação divulgada pelo departamento da Secretaria Municipal de Saúde. “É insuportável a situação de quem vive ali já há algum tempo. Sou defensor dos empreendedores, mas não se pode criar um empreendimento que cause transtorno para toda a população. Todo mundo sabe que isso começou depois da instalação de uma empresa. É legal, dá emprego, mas não pode trazer transtorno para uma população inteira. Pelo que apuramos isso ocorre porque não estão usando um produto que impede a proliferação de moscas, que é um produto caro, mas isso já tem estar no valor agregado. Essa coisa de feromônio é história de Instagram para quem está apaixonado, parece comercial que um cara usa um perfume e todo mundo sai agarrando ele”, comentou Rangel.

Posicionamento da Saúde
Ainda segundo a nota encaminhada ao Diário em janeiro, a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária está atuando para solucionar o problema. Além de citar a fiscalização ao estabelecimento comercial e a possível causa o uso inadequado, por parte de alguns produtores rurais, de um fertilizante específico que ao entrar em contato com a terra exala um aroma que se assemelha a feromônios, é dito que “somado a isso, o descarte irregular de lixo orgânico próximo ao mercado do produtor rural instalado no bairro também pode atrair os insetos”.
Riscos à saúde
Moscas entram em contato com materiais contaminados, como lixo, fezes e alimentos em decomposição. E, após isso, podem carregar microrganismos patogênicos. Ao pousarem em superfícies limpas, elas acabam espalhando bactérias, vírus e outros parasitas. Um sério risco sanitário. Como carregam micróbios, o simples contato das moscas com qualquer alimento pode torná-lo impróprio para consumo. Entre as doenças que as moscas podem transmitir estão disenteria, salmonelose, febre tifóide, miíase, diarreia neonatal, parasitoses e amebíase intestinal. Em algumas doenças, as moscas atuam como hospedeiras, desempenhando um papel no ciclo do patógeno e na sua transmissão, e em outras, sua ação como vetor é mecânica, atuando como mero transporte.