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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Com menos gente, cada vez mais bichos “passeiam” pelo Parnaso

Novos flagrantes de onças e cachorros do mato animam pesquisadores e encantam visitantes

Fechado há quase cinco meses, por conta da pandemia do novo coronavírus, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos ainda não tem previsão para reabertura. Mas, enquanto os visitantes continuarem impossibilitados de frequentarem as sedes e trilhas da unidade de conservação ambiental – terceira mais antiga e uma das mais importantes do país – quem vai continuar aproveitando são os bichos, de todo o tipo. Desde a proibição da visitação, Biólogos do Parnaso fizeram dezenas de flagrantes de animais em locais e horários incomuns, justamente por conta da presença do público. Os primeiros registros aconteceram cerca de um mês após o fechamento e, no último fim de semana, o Parque Nacional divulgou novas imagens dos “verdadeiros donos da floresta” aproveitando os ambientes criados para a utilização humana. A que mais chamou a atenção foi a de uma Onça parda (Puma concolor) macho que fica um longo período em frente ao sistema de monitoramento, feito com uma câmera que começa a gravar a partir de movimentos. Outras espécies de grande porte e pouco conhecidas do público comum também foram gravadas nas armadilhas fotográficas, como cachorros do mato, na região de Petrópolis. “Nós fazemos aqui no Parque Nacional da Serra dos Órgãos um monitoramento de mamíferos já há bastante tempo e, com o fechamento das trilhas, da visitação, aproveitamos para colocar as máquinas fotográficas e observar como os animais estão reagindo à ausência de pessoas”, conta Cecília Cronemberger de Farias, responsável pelo monitoramento do Parnaso.
Ela relata ainda que: “O que temos observado é que eles estão mais à vontade, caminhando mais. Isso não significa que antes os animais não estivessem por lá ou não usassem as trilhas, na verdade eles não usavam na hora em que as pessoas estariam usando quando parque está aberto à visitação. E o que é interessante nesses registros é que nós vemos os animais usando as trilha às 10h, 11h da manhã. São horários que as trilhas estariam sendo usadas quando temos visitantes”. 

A bonita Jaguatirica aproveita a ausência dos visitantes para conhecer melhor a Trilha Suspensa

O sistema
As câmeras que estão instaladas em vários pontos do parque fazem parte do projeto de mamíferos de grande e médio portes, coordenado por Cecília, que vem sendo trabalhado há quase 10 anos. Ao longo desse tempo vem sendo analisando dados para entender como anda o ritmo da comunidade dos mamíferos. “Nós usamos as armadilhas fotográficas como se fossem maquinas fotográficas acopladas no sensor de presença e temperatura que consegue perceber quando um animal passa na frente e aí registra em foto ou vídeo. Então nós conseguimos ver bichos que em geral não veríamos de outra maneira, principalmente os felinos e felídeos e animais grandes que fogem de nós”.

Novos hábitos
As mudanças na rotina do parque que, consequentemente refletiram no comportamento dos animais, proporcionou uma nova linha de pesquisa, como conta Cecília. “Eles percebem que não tem barulho, cheiro, nem mesmo a manutenção de trilha está havendo. Quando voltarmos vai retornar à manutenção, as visitas ao parque, então nós queremos avaliar se os animais vão mudar o horário de circulação, passando nos mesmo lugares só a noite ou se simplesmente vão deixar de usar as trilhas” e “nós pretendemos continuar monitorando quando voltar a visitação do parque para ver como os animais vão reagir a volta das pessoas nas trilhas. O estuda vai permitir a gente ver qual o tamanho da mudança que ocorre para os animais”. 

Outros casos
O registro de animais silvestres passeando livremente não tem acontecido apenas dentro da sede do Parnaso. Onças já foram flagradas em Petrópolis e  Itaipava, município e distrito vizinhos, e também em Santa Rita, interior de Teresópolis. Por se tratarem de situações infrequentes, muitos acabam não sabendo como proceder em tal situação e Cecília alerta: “Nunca se deve tocar em um animal silvestre, especialmente se for animal como felino que pode atacar ao se sentir ameaçado. Então eu deixo claro que esses animais não vão atacar por nada, eles podem se defender. A pessoa deve ligar para os órgãos ambientais, seja o parque nacional, parque estadual, secretaria municipal de meio ambiente, defesa civil ou bombeiros avisando que tem um animal, principalmente se ele estiver em risco”.
O momento tem sido de reflexão para os humanos, que estão observando as mudanças da natureza e dos animais nesse período de isolamento. “Do ponto de vista da relação das pessoas com a natureza e com os animais, nesse momento em que as pessoas se fecharam mais em casa e a circularem menos, não só no parque nacional, mas no mundo é dela também todo. O aparecimento de animais em lugares que até inusitados, como nas cidades traz uma reflexão de que o espaço que a gente ocupa, o planeta terra não é só nosso, nós dividimos esse planeta com todas as outras espécies e o espaço que nós ocupamos também são delas”, destaca a pesquisadora.

 

 

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Edição 27/11/2024
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