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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Limitações da linguagem

“A linguagem é a casa do ser”, já nos diria Martin Heidegger, pois tudo que existe, só existe porque pode ser dito. Seria, portanto, inconcebível perceber algo sem nomeá-lo? Quando vemos algum objeto pela primeira vez em nossa vida, tentamos traduzi-lo em nossa fala a nossos amigos, relatando sua aparência, o comprimento, largura, profundidade, textura, cor, mas mesmo que ocorra uma riqueza de detalhes, só haverá uma absorção daquele coletivo, quando chegarmos a um consenso para nomear o objeto percebido.
Geramos conceitos. Mesmo que tragicamente, como relatado no livro “Planolândia” de Edwin A. Abott onde em dado momento o protagonista relata uma viagem feita por ele a diferentes lugares: a Pontolândia (um mundo sem dimensão), a Linhalândia (o mundo de uma única dimensão), a Espaçolândia (mundo de três dimensões) e até anuncia a existência de mundos com quatro, cinco ou mais dimensões. Interessante notar que o protagonista deve desafiar seus preconceitos mais básicos sobre seu mundo para entender uma visão muito mais ampla e completa da realidade, todavia ao relatar o que percebeu a seus compatriotas Planistas, ele se transforma para alguns em um visionário e, por outros, é tratado como louco e passa a ser segregado. Nossa linguagem conseguirá traduzir tudo aquilo que contemplamos e experimentamos?
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças”, que em suas descobertas diárias serão tomadas pela perplexidade própria aos principiantes. A criança para ser compreendida, aponta para um objeto similar ao que viu, demonstra o tamanho, identifica a cor, porém ainda não consegue se expressar convencionalmente, pois desconhece o nome que a este objeto deram. Alguns adultos que ainda conservam uma espiritualidade leve, se permitirão ser conduzidos até o quintal pelos dedos da criança e dirão: “Ah! É uma linda borboleta filho.” Outros tantos, com o peso espiritual causado pela sua adultice, dirão: “Anda. É só uma borboleta!” A criança segredará ao coração: “É a vida! É bonita e é bonita!”
Nomear algo promoverá acordos linguísticos, entretanto, incorrerá no erro de extinguir por meio de um conceito, a beleza do que se percebeu. Beleza põe mesa sim, porém não escrevo da beleza que a Vogue estampa, mas daquela beleza originária que quando criança percebíamos. Daquele assombro que nos sequestrava e nos paralisava frente aquela paisagem. A beleza perceptível aos eternos principiantes.
Na mesa posta pela beleza, a vida não flutua no idealismo, o cenário apresentado pode ser um deserto, todavia, o vislumbre daquela realidade não fará o espectador cair no desespero e abandono diante da sequidão, pois a mesa posta pela beleza apresentará em seguida um amplo caminho de possibilidade, onde a terra seca será irrigada pela água fresca que brota milagrosamente de uma rocha. Portanto, o conceito “deserto” não se define, exclusivamente, pela seca.
Na vida queremos conceituar tudo, inclusive nossos trágicos acontecimentos. Procuramos conceitos, respostas, doutrina, alentos verbalizados que acalentem a dor sentida, todavia, nada disso preencherá a perda daquele que se foi. “Por que ele?” A resposta pronta será: “Porque Deus quis ué.” Você já parou para pensar que Deus não queria a morte, e pelos relatos bíblicos, a morte se achegou por uma escolha da humanidade? Deus não tem nada a ver com a morte. Acredite que frases prontas não acalentarão corações feridos. “Por que ele?” Não verbalize suas respostas formatadas nas tabuinhas da religião, mas apenas ofereça seu ombro e seus ouvidos para quem sente tamanha dor. O que passar disso será desumano e demoníaco.
Não conceitue tanto, nem ofereça frases prontas perante a dor e a beleza, apenas as absorva com temor e tremor. Não se esqueça que um mero pontinho azul na imensidão desse vasto universo, nunca poderá conter o universo do qual faz parte. Diante da dor e da beleza… Silêncio! “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”

Tiago

Tiago Sant´Ana

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Edição 16/04/2025
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