Experimentamos tempos de crise. Nossas estruturas emocionais e físicas, patologicamente, encontram-se abaladas em meio a tantas informações, alarmismos e falácias. Da crença à descrença, do relaxamento à prudência — situados no meio do combate midiático e político — nós, meros mortais, pagadores de contas, não apenas nos isolamos em casa, mas também dos interesses de indivíduos esfomeados por poder.
Todavia, será apenas essa a crise? O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han nos alerta para uma atual sociedade do desempenho, em detrimento da anterior, a sociedade disciplinar. O autor escreve em seu livro Sociedade do Cansaço:
“No lugar de proibição, mandamento ou lei, entram projeto, iniciativa e motivação. A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados.”
Estamos cansados das exigências deste tempo. As leituras do tempo são realizadas para diagnosticar os males mais profundos. Não vivemos apenas sob a periculosidade de um vírus, mas sempre nos expomos, imprudentemente, ao constante perigo que é ligar o modo automático para viver.
Absorvemos, sem sorver cautelosamente, o que nos têm repassado. No exemplo prático, faça uma análise a respeito do que te enviam no WhatsApp. Sem muita dificuldade, ao colocar essas informações no Google, o assombro virá de imediato, ao se constatar como “homens-massa”, que buscam gerar massas de manobra, nos influenciam. Parece que, via Bluetooth, nos pintam a cara, assemelhando-nos a palhaços — animais de rebanho, pastoreados pelas conveniências ideológicas. E muitos, vale dizer, não são inocentes, pois anseiam pelas migalhas que caem da mesa.
A briga ideológica que se perfaz por trás de tudo o que está acontecendo nos faz repensar o que nossos pais nos diziam: “Vai ficar aí batendo palma pra maluco?” Ou aquela orientação categórica: “Quem se mistura com porco, farelo come.”
Nossa crise maior na atualidade, é hermenêutica, ou seja, interpretativa. E, claro, toda interpretação parte de um lugar de fala — nossas particularidades — e estas não devem flertar com o exclusivismo dos nossos redutos, mas com a interdependência que nos faz ser humanos, e não selvagens a caçar uns aos outros.
Transpareço minha indignação, pois postagens e correntes via redes sociais saturaram córneas. A guerra ideológica quebra braços e subtrai a vida, as fala News continuam sua cruzada, enviar para o túmulos as reputações e manchar imagens dos que discordam de nós. Que se preze, pela boa dialética, mas que não seja alvejada a tribuna, liquidando gente de carne e osso, lembremos: Nossa luta não é contra carne ou sangue, mas sim contra as hostes invisíveis deste mundo tenebroso.
