Wanderley Peres
‘Tá errado o que eu falei, não é isso que eu penso, o que falei foi um erro, em momento de empolgação’, disse o pré-candidato ao governo de São Paulo, deputado estadual Arthur do Val, do Podemos, flagrado em áudio onde revelou as reais intenções de sua incursão à Ucrânia. O político ligado ao Movimento Brasil Livre, MBL passou os últimos dias posando de bom moço, entregando doações para refugiados ucranianos e até “ajudando a resistência ucraniana à invasão”, como fazia parecer, mas suas intenções seriam pouco sinceras. “Eu fui fazer uma coisa, mandei um áudio infeliz e a impressão que passou é que fui fazer outra coisa”, justificou, afirmando que “não teve tempo de fazer nada [demais], como sugerem que ele tenha feito as redes sociais.
Vítima de seu próprio veneno, Arthur do Val, como diziam antigamente, “foi buscar lã e voltou tosqueado”. E, além de tosqueado, e com a sua candidatura pelo Podemos já comprometida, corre o risco até perder o mandato que finda em dezembro próximo, passando à história como alguém pior do que aqueles a quem criticava enquanto candidato. Nesta sexta-feira, o PT, alvo preferido do inconsequente, entrou com representação contra ele na Assembleia Legislativa de São Paulo por quebra de decoro parlamentar. “O presente caso merece, evidentemente, apuração pela quebra de decoro parlamentar; competindo, assim, a este colendo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar afirmar sua repulsa ao sexismo e a qualquer forma de discriminação, reforçando posicionamento de integral solidariedade e respeito às mulheres que se viram aviltadas em sua dignidade pela manifestação do parlamentar, nos termos e conformes dos procedimentos adrede especificados”, escreveu o deputado estadual paulista Emídio de Souza. Seu partido, o Podemos, também o defenestrou: “São gravíssimas e inaceitáveis as declarações do deputado estadual Arthur do Val, que foram divulgadas na imprensa. Não se resumem ao completo desrespeito à mulher, seja ucraniana ou de qualquer outro país, mas de violações profundas relacionadas a questões humanitárias, em um momento em que esse povo enfrenta os horrores da guerra. O Podemos repudia com veemência as declarações e, com base nelas, instaura de imediato um procedimento disciplinar interno para apuração dos fatos. Até este momento o partido não havia conseguido contato com o deputado, que estava em voo”, diz a nota do Podemos. Já o movimento UneAfro Brasil representou o deputado ao MP pedindo investigação sobre o áudio que “incentiva o turismo sexual”. Até a namorada o deputado perdeu, despedido pelas redes sociais mesmo: “Em respeito a todos os meus seguidores que também seguiam o Arthur gostaria de deixar claro que seguiremos caminhos distintos. Infelizmente a vida é imprevisível e muitas vezes nos leva por caminhos que não compreendemos. Mas de uma coisa podemos ter certeza: o amor foi real e sempre será”, postou.
A desgraça de “Mamãe Falei” foi motivo de comemoração Brasil afora, tantas foram as vítimas de seus chistes, tidos como ações contra a corrupção e os bons costumes, execrações públicas que lhe renderam em 2018 um mandato de deputado estadual por São Paulo. Convidados pelo grupo político do então prefeito Tricano, de quem recebeu cópias de conversas com vereadores grampeados por secretários da prefeitura, o membro do MBL também fez seus estragos em Teresópolis, interpretando fragmentos de jogo de intrigas entre grupos políticos rivais, e de aliados políticos em momento de rivalidade, depois publicando vídeo que rendeu 1 milhão e 600 mil visualizações na internet, além de 5.200 comentários e 107 mil curtidas. No vídeo gravado em Teresópolis, os alvos preferidos foram os então vereadores Daponte e Rock, não reeleitos, e Cláudia Lauand, que nem chegou a concorrer à reeleição.
