Wanderley Peres
Quem se lembra da Feira Literária de Teresópolis? Faz tempo que foi realizada a Lê Terê pela secretaria de Educação, mais de um ano, na verdade quase dois anos, e até agora os artistas que se apresentaram no evento não receberam pelo trabalho feito. Na divulgação da festa, a Prefeitura garantiu que a 1ª Festa Literária de Teresópolis teria o “famoso Show da Tina, o teatro de bonecos da Turma do Frederico, o Teatro Mágico do Le Peppe, dos Irmãos Kyoskys, e apresentações especiais dos artistas Edinar Corradini e Rubinho do Vale”. Haveria ainda a presença de personagens da Literatura infantil, como a Turma do Sítio do Picapau Amarelo, a Branca de Neve, o Chapeuzinho Vermelho e A Bela e a Fera…
Além dos estandes de vendas de livros, e as editoras receberam da empresa comissionada pela Prefeitura pelos livros vendidos aos cerca de 20 mil alunos da rede municipal, a feira encantou com as apresentações e oficinas, como a ‘Incentivando a Arte e a Leitura – Oficina de Fantoches’, ‘Toca da Ciência – Educação Ambiental’, e ‘Contar e Brincar’, com Claudia Coelho, Sandra Dias e Álan Magalhães. Foi um movimento que enriqueceu culturalmente os alunos, preparando novos artistas e futuros escritores, inserindo a literatura no universo da escola.
Embora acostumado a não cumprir o que promete, o prefeito cumpriu o programa e ocorreu como anunciado o megaevento da Educação no ginásio Pedrão, realizado para “aproximar os alunos do município ao mundo mágico da Literatura, oferecendo aos participantes altas aventuras, romances, mistérios e sonhos”. O que não aconteceu foi o pagamento dos artistas que ilustraram a festa com o suor do seu trabalho que encantou o público. E agora, depois de muita espera, os artistas voltaram a reclamar do atraso do pagamento.
Wendel Caetano, o palhaço Le Pepe, é um dos artistas que está levando cano da Prefeitura. Em vídeo para O DIÁRIO, o artista capixaba disse que veio a Teresópolis para trabalhar com o seu grupo, durante duas semanas. “Fizemos quatro espetáculos por dia durante duas semanas, representando uma grande despesa para nós o traslado do grupo, além da alimentação e hospedagem, com a promessa de receber depois, e esse depois já vai para dois anos, em que estamos amargando o prejuízo da demora do pagamento”, reclamou.
Cleiton Passos, também do Espírito Santo, foi atração em Teresópolis ao longo da Feira. “Participamos da Pre Lê Terê e da Lê Terê. Foram duas semanas de muito esforço e dedicação, e não recebemos nada além de promessas vazias. A última foi em setembro, quando a secretaria de Educação garantiu que todos que estavam por receber iriam receber. E até agora nada. Estou esperando como todos aqueles que trabalharam e merecem receber o pagamento. Fizemos o nosso melhor, e agora esperamos saber, ao menos, quando essa promessa de pagamento de fato vai ser cumprida, porque as promessas vazias se arrastam há quase dois anos”.
Artista teresopolitano engajado nos movimentos culturais, o produtor cultural, compositor violonista e intérprete popular Alan Magalhães ficou encantado com a Feira. “A Lê Terê teria uma realização maravilhosa do governo se não fosse esse calote que estamos levando. Prometeram pagar em até 60 dias e já vai para dois anos a demora pelo pagamento. É lamentável eu ter que vir a público para demonstrar essa indignação, e desconfiança no poder público municipal, que há um ano e sete meses vem enrolando a gente para nos pagar por um serviço que foi prestado com excelência pelos artistas locais e de fora. Isso não se faz. Estamos ouvindo promessas, mas queríamos uma garantia mais efetiva do poder público para precisar quando será honrado esse compromisso firmado com os artistas. Até agora, foi somente papo furado e falta de consideração. O prefeito fala mentiras e foge da gente, e exigimos o pagamento pelo nosso trabalho”.
FALA DO GOVERNO
Apontando para a superação de “desafios financeiros” e “queda da arrecadação em torno de R$ 100 milhões desde 2022” e, ainda, os “precatórios”, a Prefeitura informa a O DIÁRIO que a dívida será quitada esse ano. “A Prefeitura de Teresópolis informa que os valores serão quitados este ano. A gestão trabalha para superar os desafios financeiros, como a queda da arrecadação em torno de R$ 100 milhões desde 2022 e os precatórios, e encerrar 2024 com todos os compromissos quitados”, disse o governo.
OPINIÃO DO DIÁRIO
As finanças são sempre um desafio, realmente, em qualquer governo. Mas a desculpa de queda de arrecadação para o calote na dívida com os artistas não procede porque o prefeito dobrou o orçamento da Prefeitura nos últimos cinco anos, indo de menos de R$ 500 mil em 2018 para mais de R$ 1 bilhão em 2024. E olha que dinheiro tinha, não tinha era gestão! Quando aos precatórios, a desculpa é pior ainda porque o prefeito que dá calote nos artistas deu o calote também nos precatórios, enquanto gastava desabridamente o generoso orçamento que ampliou.