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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Pelé e Teresópolis

Destaque na Copa de 1958, e ídolo em 1962, Pelé conheceu Teresópolis em 1966, já com a coroa que sempre fez jus a ela

Wanderley Peres

Morreu Edson Arantes do Nascimento, Pelé, aos 82 anos, de falência de múltiplos órgãos, resultado da progressão do câncer de cólon. Foi na tarde desta quinta-feira, 29, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, onde estava internado há um mês, desde o dia 29 passado. O enterro será na terça-feira da semana que vem, dia 3, às 10h, no Memorial Necrópole Ecumênica, próximo à Vila Belmiro, onde fica o templo do Santos Futebol Clube.

Muito vai se ouvir sobre esse brasileiro ilustre, tricordiano, mineiro de Três Corações, nascido em 23 de outubro de 1940. E sobre sua vida pessoal, pela condição de celebridade, ou opção política, muitas impropriedades serão ditas. Ninguém vai ousar, no entanto, questionar a sua arte. O rei está morto, e não temos novo rei para saudar porque o futebolista era único.

Num dos tantos eventos de recepção à Seleção Brasileira em Teresópolis no ano de 1966, Maria Luiza Vieira e a professora Regina Rebello, ladeando elegantemente o Rei Pelé, já um ícone do futebol mundial. Nesse ano, os treinos eram realizados no campo do Teresópolis, e a seleção fez vários treinos-amistosos com times da região para arrecadar fundos para bancar os custos da estadia. Tempos difíceis e bons aqueles.

Destaque na Copa de 1958, e ídolo em 1962, Pelé conheceu Teresópolis em 1966, já com a coroa que sempre fez jus a ela. Recebido com festa na cidade, quando a Seleção Brasileira se preparou aqui para a Copa do Mundo da Inglaterra, Pelé era o mais celebrado de todos da equipe e o time era de artistas de renome como o goleirão Gilmar, e Djalma Santos, Bellini, Altair, Paulo Henrique; Denílson, Lima; Garrincha, Alcindo e Jairzinho.

O anúncio da escolha de Teresópolis para a concentração da Seleção Brasileira foi comemorado pelos teresopolitanos, que prepararam recepções diversas para os embaixadores do futebol, com eles participando dos eventos organizados pelos teresopolitanos como se não fossem os artistas que eram.

A comissão técnica e os jogadores se hospedaram no hotel Pinheiros, em Quebra Frascos, e os jornalistas e radialistas lotaram o Hotel Várzea, fazendo ali o QG dos jornais e revistas, das rádios e tevês, do Brasil e do mundo. Sob os olhares da imprensa, tudo acontecia de forma simples, sem seguranças, com os jogadores circulando livremente, e o público interagindo com os artistas do futebol até nos treinamentos. Nada era ainda suntuoso como hoje no futebol e a seleção, sem o dinheiro fácil de hoje em dia, fazia jogos treinos cobrando ingresso para custear seus gastos, dando a oportunidade aos atletas da terra de serem driblados por Garrincha e Pelé, e Djalma Santos e Bellini, ou Jairzinho. As arquibancadas ficavam lotadas, o público sentia o privilégio de estar diante daqueles que, em poucos dias, seriam cultuados e reconhecidos pela sua arte no mundo todo.

Pelé entre Garrincha e Brito, com o Hotel Pinheiros ao fundo, concentração da Seleção Brasileira em 1966, na preparação para a Copa do Mundo da Inglaterra, quando chegamos em décimo primeiro lugar apenas

Na preparação da Copa seguinte, de 1970, mais festa, mais Teresópolis sede da Seleção Brasileira, e novamente hospedagem em hotel. A cidade foi tão querida pelos jogadores que a CBD, Confederação Brasileira de Desportos, como era conhecida a CBF, adquiriu terreno na cidade para a sua concentração, na Granja Comary, projeto que acabou saindo do papel mais de dez anos depois somente, graças ao empenho da prefeitura, à época. Eram os anos 1980 e o prefeito da cidade, engenheiro Celso Dalmaso, fez de tudo para não perder o título de capital nacional do futebol. Mudada a CBD para CBF, haviam colocado o terreno à venda, e os especuladores cresceram os olhos na área para construir prédios de apartamentos; a prefeitura e a Câmara tornaram a área não edificável, jogando por terra o projeto imobiliário, e articulou, politicamente, com os capitães do futebol e os generais da política, se interessando a CBF novamente pelo Comary, enfim inaugurada a sede em 31 de janeiro de 1987, já preparando a Seleção Brasileira na Copa de 1990.

Lembrar de Pelé é cultuar a arte com os pés, esse esporte que chegou ao Brasil em meados dos anos 1890 e se tornou uma paixão nacional. E o tricordiano Edson Arantes do Nascimento viverá para sempre no imaginário do povo, tão carente de ídolos, e agora órfão da maior referência que tinha para o futebol.

Um salve ao rei, viva Pelé!

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Edição 23/11/2024
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