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O DIÁRIO DE TERESÓPOLIS
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Desbravando o Alto do Felício, a “pirâmide” de Vieira

Sabe aqueles lugares que é difícil manter a concentração? Aqueles que oferecem tanto acalento aos olhos que automaticamente o coração desacelera e os pensamentos ficam leves? Assim é praticamente toda a extensão da estrada que liga Teresópolis a Nova Friburgo, a RJ-130, uma rodovia quase que em sua totalidade vizinha ao Parque Estadual dos Três Picos e onde também a agricultura se desenvolveu com bastante sucesso, fazendo dessa região a principal fornecedora do Ceasa, no Rio de Janeiro. São tantos atrativos naturais ou obras trabalhadas pelo homem que não é fácil escolher o lugar mais bonito.

Mochileiro – Marcello Medeiros

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Sabe aqueles lugares que é difícil manter a concentração? Aqueles que oferecem tanto acalento aos olhos que automaticamente o coração desacelera e os pensamentos ficam leves? Assim é praticamente toda a extensão da estrada que liga Teresópolis a Nova Friburgo, a RJ-130, uma rodovia quase que em sua totalidade vizinha ao Parque Estadual dos Três Picos e onde também a agricultura se desenvolveu com bastante sucesso, fazendo dessa região a principal fornecedora do Ceasa, no Rio de Janeiro. São tantos atrativos naturais ou obras trabalhadas pelo homem que não é fácil escolher o lugar mais bonito. Entre os muitos atrativos diferenciados e imponentes, está o Alto do Felício, uma “simpática” e pouco visitada montanha que se eleva a 1.694 metros de altitude em relação ao nível do mar e que oferece uma excelente vista para todas essas maravilhas do Terceiro Distrito de Teresópolis e também para parte do município vizinho – que já fica ali, bem pertinho dela.
Com seu formato piramidal, o Felício se destaca nas proximidades do quilômetro 38, em Alto de Vieira, bem de frente para a famosa curva forte antes do mirante dessa localidade. A “pirâmide de rocha” lembra também uma espécie de castelo, um lugar que parece haver alguém de olho e protegendo todas aquelas maravilhas e as dezenas de famílias que têm o agronegócio como sustento.
Localizada na área do PETP, a montanha tem caminhada leve, de cerca de dois quilômetros, mas acaba se tornando convidativa e desafiadora por uma característica bem difícil de encontrar nos dias de hoje por conta da modinha dos “trilheiros de internet” que passaram a invadir espaços antes só frequentados por aqueles apaixonados pelas belezas naturais: Pouco visitado, o caminho é bastante fechado!
A caminhada é realizada pelo lado direito da montanha e, antes de iniciar a subida em meio à floresta, é preciso pedir autorização. O acesso é feito por dentro de uma das muitas simples e aconchegantes propriedades rurais de Vieira. Muito atenciosos, os proprietários ou caseiros sempre são bastante receptivos, justamente porque, pelo menos até agora, também foram educados aqueles que solicitaram a passagem por ali. E assim fizemos eu e meus companheiros de caminhada, uma turma boa do Centro Excursionista Teresopolitano, o CET, no último fim de semana.

Aquele cheirinho de mato…
Após cruzar a estradinha de terra e um trecho com eucaliptos, hora de procurar a trilha. Isso mesmo. Procurar a trilha. Sem a ajuda do GPS, ficaria bastante difícil porque o acesso está bastante fechado. Bora encarar a mata e, independente do auxílio tecnológico, “colocar o faro em dia” para reabrir, quase que no peito, o antigo caminho. Bem disfarçado entre a vegetação que tomou seu lugar nos últimos meses e grandes árvores que tombaram e já começaram nova etapa do seu ciclo na natureza, a marca da passagem de outros da nossa espécie.
Após um trecho onde a floresta parece querer nos expulsar, a passagem fica mais plana e aberta. O motivo é que, nesse ponto, existe uma antiga linha de força, que provavelmente levava energia de Vieira para propriedades nas proximidades do Barracão dos Mendes – ou vice-versa. Seguindo os antigos fios, a referência para sair do caminho mais aberto é um poste quebrado. A trilha agora segue para a esquerda, por um suave e bonito bosque.
Esquerda novamente e uma pequena crista, cortada por uma cerca de arame farpado. Nesse local já se avista a região e formações rochosas vizinhas de um ângulo privilegiado. Antes de a passagem começar a ficar mais íngreme, novo trecho mais fechado e, onde, assim como na maior parte da subida, o cheirinho de mato gerado pelo nosso contato com a vegetação se torna outro diferencial do Alto do Felício.
Em trilhas mais populares, e consequentemente mais abertas, geralmente caminhamos livres desse contato, o que para muitos é considerado ruim. Mas para quem busca a essência desse esporte, o sentimento de “desbravador” é outra recompensa. E a cada metro percorrido, diferentes espécies de plantas atraem nossos olhares, como liquens que, pelo menos para a grande maioria, nunca foram avistados em outros caminhos.

Paredões e lavouras
No trecho final da trilha, muito capim e samambaias do mato, que geralmente indicam que o terreno sofreu algum impacto, causado pelo homem ou de forma natural. Com seus propágulos, as sementes, frutos ou esporos levados pelo vento geraram plantas consideradas daninhas e invasoras, mas que estão ali contribuindo para o processo de sucessão secundária e futuramente permitirão a retomada de espécies maiores e características daquele local. Não deu para perceber se houve ali algum incêndio ou deslizamento que tivesse deixado o terreno descampado. Afinal, além do calorão que fazia, já batia aquela vontade de chegar aos quase 1.700 metros de altitude!
E depois da tal “luta com a floresta”, chegamos lá! Cume! Mais um para a história do clube e inédito para a grande maioria do nosso grupo. Hora de se cumprimentar, uma tradição no montanhismo, e cada um encontrar sua maneira de contemplar o mundo de cima a partir daquele ponto.
Eu, particularmente, gosto de primeiro dar uma olhada em todo o meu entorno. Depois, sentar e gastar a vista um pouquinho em cada lado, identificando outras montanhas e localidades daquele ângulo diferenciado. E do cume do Alto do Felício, essa é uma missão difícil. Bem perto de nós, outras imponentes formações rochosas protegidas pelo PETP. Ronca Pedra (Um gigante!), Palmital, CEB 83, 20 de Abril e Paquequer. Um pouco mais longe, a Torre Maior! Que reino de magia, quantos caminhos a serem explorados! Abaixo, a localidade de Vieira e suas quase incontáveis lavouras, plantações de todo o tipo que compõem o cenário das partes aparentemente mais planas, no entorno das elevadas montanhas. No sentido oposto, Nova Friburgo e o maciço do Caledônia se destacam.

Um pouco de tristeza
Conhecemos um lugar novo, rimos com as piadas dos colegas, comemoramos as amizades moldadas pelas semelhantes almas, pela mesma paixão pelas montanhas. Como também é tradição, aquela parada para almoçar ou petiscar e, logicamente, jogar um pouco mais de conversa fora. 
Mais um sábado muito bem aproveitado, hora de pegar a RJ-130 de volta para casa. E foi aí que nosso coração, que até então batia feliz, começou a ficar apertado. Passamos por dezenas de queimadas, incêndios criminosos às margens da rodovia e nos morros do entorno, causando danos irreparáveis ao meio ambiente e deixando um pouco menos bonita aquela região que encanta tanta gente. De mãos atadas, sem conhecimento e equipamento para auxiliar os bravos brigadistas, nos restou torcer para que as equipes conseguissem evitar dano maior.

Viva e deixe viver
Não siga a modinha. Montanhas são reinos mágicos, lugares onde deve haver sentimentos, superação e atenção… Ambientes naturais representam também muitos perigos, importante lembrar! Não vá somente em busca da foto perfeita para as redes sociais! E, caso consiga chegar ao topo de alguma delas, lembre-se sempre de não deixar nada a não ser pegadas e não levar nada a não ser lembranças.
Para saber sobre essa e muitas outras trilhas, conheça o Centro Excursionista Teresopolitano. As reuniões sociais acontecem todas as quartas-feiras, a partir das 20h30, na loja da Sociedade Pró-Lactário (Número 555 da Avenida Lúcio Meira, ao lado da ponte, na Várzea). Visite também os perfis do CET nas redes sociais Facebook e You Tube! Abração e até a próxima!

 

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Edição 23/11/2024
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